sábado, 29 de outubro de 2011

Cinema será estacionamento

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As cadeiras em madeira estão amontoadas no palco da telona no último cinema de Juazeiro do Norte 
FOTOS: ELIZÂNGELA SANTOS
Os amantes da sétima arte estão desolados com a desativação, em definitivo, de mais um cinema no Cariri
Juazeiro do Norte São quase 15 anos desativado. O cine El Dorado dá o seu último suspiro, antes de passar a ser um simples estacionamento. Um espaço de 1.200 lugares, algo raro nas salas de exibição do interior do Nordeste, termina sem o sonho de reviver grandes momentos do cinema no Cariri. Depois do fechamento do Cine Plaza, na Rua Clóvis Bevilácqua, no Centro da cidade, a opção foi possibilitar um espaço maior para reunir o grande público que se juntava nas matinês e nas noitadas para assistir as sobreviventes chanchadas e os faroestes americanos, além dos brasileiros "Os Trapalhões". Eram os últimos momentos do último dos cinemas de Juazeiro.

As cadeiras em madeira fixadas no chão por parafusos já foram todas retiradas. Estão no palco principal, na frente da telona de 15x20 metros que arrancou tantos sonhos da moçada no fim dos anos 70. Adquirido pelo empresário Expedito Costa, no ano de 1977, o El Dorado esteve aberto por duas décadas. As tentativas de dar vida ao espaço foram inúmeras. Ao ponto das incríveis promoções de um ingresso para dois filmes. O fim da Empresa Brasileira de Filmes Sociedade Anônima (Embrafilm), nos anos 90, veio como o golpe final. O espaço ainda resistiu sete anos. Boas histórias para contar, mas muito sacrifício para o empresário que chegou a possuir 17 salas de cinema em diversas cidades nordestinas.

A casa cheia foi testemunhada inúmeras vezes pelo proprietário. Expedito Costa sonhava mais longe, quando decidiu adquirir o cinema. Com o novo espaço, poderia ter um público maior, e também ceder às outras formas de manifestações culturais da cidade. Então, projetou o local para apresentações musicais e teatrais. Antes da telona, um palco. Caso não tivesse sido projetado, a área das cadeiras, que agora poderão servir para as orações evangélicas, seria ampliada e somariam 1.500 lugares.

Poucas pessoas atualmente lembram ou sequer têm conhecimento do cinema da pequena Rua Edésio Oliveira. Quem vê de fora a bilheteria também não sabe do grande espaço do outro lado da parede. O lugar ainda possui a acústica dos tempos idos, conservando os ecos do passado.

Alguns projetos culturais junto a instituições como Sesc, o Centro Cultural Banco do Nordeste foram suscitados, mas não houve um progresso para fazer perdurar o velho cinema como um centro cultural na cidade. O estudante universitário Jeampierre Tavares Beline, ao saber do El Dorado, se encantou com a dimensão do que o cinema poderia provocar na juventude caririense e nos cinéfilos apaixonados. Começou de todas as formas a mobilizar pessoas e instituições para ver de perto o que, mesmo assim, já tinha o seu fim decretado. Ele diz que mesmo depois de iniciado o estacionamento, pretende desenvolver ações culturais no espaço.

Segundo Expedito Costa, o poder público, como a Prefeitura de Juazeiro do Norte, foi mobilizada com essa finalidade, para poder resgatar o cine como um espaço cultural de valor na cidade. Ele lamenta, ao falar que todas as tentativas foram em vão. Não houve quem realmente acreditasse na ressuscitação do local. Movimentar uma área da cidade que hoje, principalmente no período noturno, até assusta quem passa pelo local. No prédio, estão espalhados diversos equipamentos, como projetores, lentes, negativos. Atrás da tela, sequer chegou a ser concluído um enorme camarim, que tem seu fim quase na saída para a Avenida Padre Cícero.

Depois de muitos questionamentos da própria família de Expedito e diante do crescimento vertiginoso da "terra do Padim" o jeito foi pensar numa alternativa viável para o local. O estacionamento foi a decisão final. Serão feitas poucas intervenções no espaço.

Fora de cena
Porém, Expedito Costa não disfarça a tristeza de ver o último dos seus espaços cinematográficos sair totalmente de cena. "Temos que perceber que os tempos são outros", diz ele, ao lembrar o advento da TV em cores e o crescimento no número de motéis na região. O público passou a ter outras alternativas de lazer, que a sétima arte não conseguiu superar.

Agora, abrem-se as novas possibilidades do cinema 3D na região, em abril, com a inauguração de seis salas no Cariri Shopping. Serão 1.200 lugares em seis salas de projeção. O tempo das grandes multidões para assistirem filmes como King Kong, clássicos americanos, agora é só mesmo lembrança.

MAIS INFORMAÇÕES 

Prédio do antigo Cine El Dorado
Rua Edésio Oliveira, S/N
Centro - Juazeiro do Norte (CE)
Região do Cariri



Diário do Nordeste

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